Mercúrio se despediu das sandálias aladas de Gêmeos. E deve prestou contas a Saturno antes de ingressar as águas de Câncer. Eu fiz um montão de coisas ontem. Agora, Mercúrio vai começar a andar de ladinho, que nem os caranguejos na praia, ou no mangue. E ao menor sinal de perigo vai sair correndo.
A comunicação ficará, assim, sensível, empática e sutil. Com tendência a proteger o que se pensa, a cuidar com o que se fala. Ou assim como a "hora da palavra quando não se diz nada, fora da palavra, quando mais dentro aflora..."
Esta música abaixo, Caetano e Milton compuseram em homenagem ao Guimarães Rosa, patrono e fonte de inspiração do Baile no Céu! E o fizeram inspirados no conto "A terceira Margem do Rio" do Rosa.
A letra é um primor:
A terceira margem do rio,
Composição: Caetano Veloso/Milton Nascimento
Oco de pau que diz:
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
Água calada, pura
Água da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai
Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio riu, ri
O que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi
A voz das águas
Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai
Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
Água calada, pura
Água da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai
Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio riu, ri
O que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi
A voz das águas
Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai
Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai
Caetano e Milton captaram a voz da águas de Rosa. Rosa tinha Mercúrio em Câncer, na verdade Rosa tinha todo um mangue (um stellium) em Câncer: Sol, Mercúrio, Vênus, Marte e Netuno. E lá do outro lado da carta, o bruxo das letras brasileiras tinha Urano em Capricórnio. A pena canceriana de Rosa fazia oposição quase exata a Urano, quando João nasceu. Por isso descreveu e criou um outro sertão, um sertão diferente que supreendeu a todos. Um Grande Sertão: veredas. O Sertão é de Capricórnio e as veredas são cancerianas. E o Sertão e as veredas de Rosa tornaram-se universais.
E memória é de Câncer, não é? Confiram:
Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."
João Guimarães Rosa
Rosa também falou de Astrologia, de um modo todo seu, assim de ladinho como um caranguejo. E profundamente, como um crocodilo do Rio São Francisco. Confiram este ensaio que bubliquei na Revista Mafuá da UFSC sobre o Recado Astrológico: o Baile de Guimarães Rosa.
Rosa é, vocês sabem, uma das minhas paixões :-)
Rosa é, vocês sabem, uma das minhas paixões :-)
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