Nos dias em que ela vem, eu acabo usando o
lavabo só para espiar seus sapatos. Ela está sempre com um diferente. Sapatos
bonitinhos, simples e, principalmente, incrivelmente limpos. Cadarços brancos
impecáveis, borracha branquinha contornado o sapato colorido. Confesso que
nutro admiração por quem consegue andar com calçados sempre limpos. E também
por quem foge do clássico preto e marrom. Eu até que consigo na maioria das
vezes andar com os meus limpos, mas também curto aqueles calçados meio
estropiados e sujos que assumem um pouco a forma da nossa personalidade, sabe?
Sem aparar as arestas das nossas andanças, contam uma história, a nossa história.
E eu amo os sapatos coloridos. Eu não chego perto dos da minha diarista. Só
olho e nutro a dupla admiração. Eles ali colocados um do ladinho do outro em
perfeita simetria. A dona dos sapatos é virginiana. E eu fico tentando ler a
história que foi limpa por talvez água e sabão? Na narrativa dos seus sapatos
eu deduzo os passos certos, regrados, de quem acorda cedinho e faz do dia alheio
um retorno ao prumo da rotina. Casa limpinha, alface no prato e lençóis
limpinhos. A Rainha das horas organizadas do dia. E quando o Sol baixa, lá vai
ela calçar seus impecáveis sapatinhos. Por onde é que eles andam? Em que cidade
eles moram? Caminhará ela com os pés na cabeça? Nunca perguntei. Nem nunca o
farei. Quem disse que Virgem não pode ser fascinante, né?
quarta-feira, 28 de junho de 2017
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 commenti:
Postar um comentário