Abaixo, um presente meu para o seu aniversário e formatura!
sempre com Amor,
Dani
“Sei agora o que nenhum anjo sabe.”
Wim Wenders e Peter Handke.
O seu mal era gasto, velho, não tinha nada de novo, mas mesmo assim podia-se dizer nobre e universal e por que não histórico, visto que repetira-se já por infinitas vezes?
Dele, alguns poucos extraíam um dom, o da melancolia que vinha nas asas de um anjo que soprava coisas belas e tristes aos que conseguiam lhe ouvir.
Mas ainda que nobre e universal, ainda que invejado pelos anjos, ela devia haver-se com o seu pesar e, para isso, entrou na banheira e deu voz ao pranto. Ele a fez reviver, relembrar cada momento vivido. Um sorriso escapava, às vezes, mas eram as lágrimas as protagonistas do seu teatro pessoal.
Saiu da banheira se perguntando se viria a sentir os deuses outra vez.
Em resposta, só o pranto e, mais uma vez, a rendição quase forçada de quem ainda quer voltar atrás numa estrada que não existe mais.
Mas a pergunta havia suscitado algo, lançado uma semente, talvez, em meio aos destroços de seu coração banhado e partido.
Não encontrou nenhum deus. Só o silêncio. E depois o silêncio. E de novo o silêncio.
Dormiu.
No sono, uma voz lhe disse:
-Deixe-me cuidar de você e, sem esperar, a abraçou junto com seu pranto.
Naqueles braços, ela relembrou os tempos de beleza, do riso fácil, da capacidade que tinha de contemplar todas as coisas belas e feias do mundo, todas elas divinas. Lembrou do tempo em que ouvia a língua dos pássaros. E chorou.
Depois, mais uma vez, o silêncio. Mais uma vez, o pranto. E voluntariamente desistiu.
Improvisamente, surgiram muitos anjos. Todos eles rufavam suas trombetas, e ela sentiu naquele rufar uma tímida alegria. Elas anunciavam um novo tempo, ao mesmo tempo que relembravam coisas já vividas. Em fila, os anjos abriram caminho e ela pôs-se a andar nele, misturando esperança com o nada esperar.
Acordou com um riso acanhado nos lábios e desligou o despertador.
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