'O nome Cordisburgo, cidade onde nasceu Guimarães Rosa, foi dado em homenagem ao padroeiro da cidade, o Sagrado Coração de Jesus. A etimologia vem do hibridismo: cordis, do latim, que significa "coração" e burgo, do alemão, que significa "vila" ou "cidade". ' Foto e texto de Izan Petterle
Hoje Mercúrio está se despedindo das sandálias aladas de Gêmeos. E deve prestar contas a Saturno antes de ingressar as águas de Câncer. Eu já fiz a minha lista aqui do que tenho pra fazer e até já risquei alguns itens. Mercúrio, a partir de amanhã, vai começar a andar de ladinho, que nem os caranguejos na praia, ou no mangue. E ao menor sinal de perigo vai sair correndo.
A comunicação ficará, assim, sensível, empática e sutil. Com tendência a proteger o que se pensa, a cuidar com o que se fala. Ou assim como a "hora da palavra quando não se diz nada, fora da palavra, quando mais dentro aflora..."
Esta música abaixo, Caetano e Milton compuseram em homenagem ao Guimarães Rosa, patrono e fonte de inspiração do Baile no Céu! E o fizeram inspirados no conto "A terceira Margem do Rio" do Rosa.
A letra é um primor:
A terceira margem do rio,
Composição: Caetano Veloso/Milton Nascimento
Oco de pau que diz:
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
Água calada, pura
Água da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai
Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio riu, ri
O que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi
A voz das águas
Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai
Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
Água calada, pura
Água da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai
Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio riu, ri
O que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi
A voz das águas
Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai
Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai
Caetano e Milton captaram a voz da águas de Rosa. Rosa tinha Mercúrio em Câncer, na verdade Rosa tinha todo um mangue (um stellium) em Câncer: Sol, Mercúrio, Vênus, Marte e Netuno. E lá do outro lado da carta, o bruxo das letras brasileiras tinha Urano em Capricórnio. A pena canceriana de Rosa fazia oposição quase exata a Urano, quando João nasceu. Por isso descreveu e criou um outro sertão, um sertão diferente que supreendeu a todos. Um Grande Sertão: veredas. O Sertão é de Capricórnio e as veredas são cancerianas. E o Sertão e as veredas de Rosa tornaram-se universais.
E memória é de Câncer, não é? Confiram:
Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."
João Guimarães Rosa
Rosa também falou de Astrologia, de um modo todo seu, assim de ladinho como um caranguejo. E profundamente, como um crocodilo do Rio São Francisco. Confiram este ensaio que bubliquei na Revista Mafuá da UFSC sobre o Recado Astrológico: o Baile de Guimarães Rosa.
Rosa é, decididamente, uma das minhas paixões :-)
Rosa é, decididamente, uma das minhas paixões :-)
17 commenti:
muita sintonia... escrevo há tres dias um texto que tem rios como pano de fundo... e nao sou uma grande leitora de guimaraes rosa... mas se encaixa como uma luva.
beijos mil
Rsrsrss
Não sei se é meu sol em câncer ou meu ascedente, mas me identifiquei muito com esse trecho do Guimarães Rosa e sinceramente gostei muito desse post.
beijos
Hericka e D.,
Sincronismos entre a terra e os céus. Recomendo muito o Rosa. Tm muito material ali. Recomendo os contos que são mais curtos, para começar.
Corpo de Baile
Primeiras Estórias
Terceiras Estórias
beijocas, queridas!
Não sabia destas configurações no mapa do Guimarães!... Sou absolutamente apaixonada por ele! Coincidência??!! rsss... eu tenho sol, vênus e mercúrio em câncer, com ascendente e saturno em caprica... beijos
Marcia,
Somos duas :-)
Coincidência nada, você tem toda a alma necessária para navegar na pena caudalosa do Rosa :-)
beijocas!
Eu tenho Mercúrio em Câncer, rsrsrs
Vou ler seu texto sobre o Rosa e depois comento, pelo visto uma formosura como tudo o que você escreve!
bjs
Mais uma caranguejinha \0/
Maria, o texto está num formato acadêmico. De lá pra cá, acho que fiz alguma estrada! :-)
Mas gosto muito dele. Foi escrito nua época de grande efervescência pra mim.
beijocas!
Minha querida amiga este Arauto Caranguejo faz oposição ao meu Arauto Cabra Montes.Tô vendo que o próximo exercício de vida , enfoca a integração.
Bela pesquisa hein, Dani. Muito bom!
beijins
Sônia,
adorei o Arauto Cabra Montes kkk muito bom!
obrigada, querida!
beijocas!
Stellium em Câncer? Sabia que rolava um sintonia na surdina! Durante muito tempo fiz birra aos meus amigos mineiros que enchiam a bola do Rosa, mas com o tempo deixei que meu Mercúrio e Sol em Câncer vagassem pelas veredas rosadianas. Que bela descoberta! Que beleza é "Tutaméia"...
Mas confesso que também gosto de ouvir as estórias imaginosas (talvez porque Mercúrio e Sol natais estejam em trígono com Netuno) do coronel Ponciano de Azeredo Furtado, com seus comentários sobre as platibandas femininas! JCC é deleite só!
Sandro,
sabe que nunca li nada do JCC? Agora que vc falou, vou procurar e ler. Adoro quando alguém me apresenta um livro :-)
Gracias!
beijocas!
Fui indicada por uma mais que amiga...a conhecer teu blog...e certamente ela me conhece muito e sabia que ia adorá-lo,como uma canceriana nata, cheguei em bom momento..e ficarei bailando neste céu de textos lindos e inteligentes...Parabéns Daniela!
Dani,
JCC merece uma conferida. Não é a metafísica de Rosa, mas uma fabulação anedótica... Uma viagem netuniana bem-humorada, no meu entender. Só lendo as estórias de Ponciano, Lulu Bergantim e outros pra entender esse estilo do JCC.
Ei, gostei dessa metáfora do Mercúrio canceriano que anda de ladinho... É uma boa descrição!
Oi, Dê!
Seja muito bem vinda e obrigada pelo carinho caranguejinha! :-)
beijocas!
Sandro, assim que puser os pés em terras brasileiras, vou procurar e comprar livros do JCC. Adoro fabulações anedóticas.
Câncer não é assim? chega de ladinho, dando voltas, nunca vai direto ao ponto, como os caranguejos. :-)
beijos, beijos!
Marcelo Dalla, meu querido!
teu comentário sumiu! O que houve?
Opa corrigi o coment, mas ele não saiu... coisas da net. è uma saudação:
Salve a palavra carregada com sentimento!!!
Salve Guimarães com Mercúrio e Câncer!!! E salve a minha amiga Daniela!!! hehehe
bjossss
rsrsrs
Salve, Salve! Salve as Luas em Câncer tb :-)
beijocas, querido!
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